sábado, 2 de outubro de 2010

Foi há tão pouco tempo...


foi há tão pouco tempo...
que te olhei pela primeira vez

éramos os dois sozinhos
depois de amores desavindos,
vidas de paixão...
alegrias
filhos!!

não procurava nada.

afinal estava de férias
por duas semanas apenas,
no time for romance!

uma amiga comum
imaginara a possibilidade
de uma empatia entre os dois.
expectativa dela
não a minha!

o final de uma longa viagem
tinha-me levado ao Cono Sur.
uma casa na praia
e um grupo heterogéneo
esperava a minha chegada

fomos apresentados
e não te dei importância.
escondida dentro de mim
sorria a todos
tentando encaixar-me neste lugar,
neste ambiente

a noite foi longa
horas trocadas
jet leg
e finalmente adormeci

no dia seguinte lá estavas,
lembro-me como se tivesse sido hoje.
com ternura na voz e palavras cálidas
convidaste-me, vamos? a la puesta del sol?...
e terminaste
só vão estar amigos, no chiringuito da praia.

não queria ir,
assustava-me entrar no meio de gente que não conhecia
que falavam uma língua que não dominava...

imaginei logo a limitação da conversa!!

porém, acedi.
entrei no teu carro,
que era diferente de todos os que tinha entrado
sem vidros nas janelas
sem estofos nos bancos
um carro com temperamento

levaste-me a uma praia linda
onde um mar de amigos
me olhava com ar inquisidor

examinaram-me,
demorada e minuciosamente.
pediram-te que me apresentasses
e, sem dar muita confiança
disseste:
- é a portuguesa,
amiga da Diná, acabada de chegar

a tua postura era serena, tranquila,
afinal este era o teu mundo
e estavas interessado em demonstrá-lo

o chiringuito,
todo de madeira
era lindo e acolhedor,
serviam caipirinhas
e o cheiro a pizza feita em forno de lenha
pairava no ar

um jogo de voleibol de praia
entre amigos ia começar
convidaste-me a participar
mas timidamente recusei

estava um dia lindo e
aguardávamos o pôr-do-sol

senti-me bem no teu ambiente,
lembro-me de ter, pela primeira vez,
reparado nas tuas mãos.
eram lindas, pensei
dedos magros mas fortes,
falavas com os teus olhos azuis
e as palavras saíam-te sensuais.
foste falando, sobre o teu lindo país,
numa voz era calma, atenciosa
e os teus relatos apaixonados
brotavam do azul transparente dos teus olhos
e amoleciam as minhas defesas.

tinha-te avisado que precisava de regressar cedo,
com receio que não tivéssemos conversa,
afinal, só tínhamos dois dias de vida!

mas o ambiente afectuoso que criaste,
a linda e amena tarde,
o mar apetecível, de águas mornas,
foram-me convidando a ficar

dezenas de crianças brincavam na areia
vários amigos de pele bronzeada
conversavam animadamente
e entre risadas todos esperavam
a descida do astro no horizonte

pediste-me para ficar

e fui ficando, ouvindo a música da tua voz
que me embalava,
que entrava em mim e me sossegava

um aplauso dos clientes do chiringo
acordaram-me deste encanto
era altura de festejar
o término de mais um dia
um dia a mais nas nossas vidas
mas este, não o sabia ainda,
era um dia diferente dos outros,

os teus olhos
as tuas mãos
o teu corpo
as tuas descrições
tinham mexido comigo.
sentia-me em casa
tranquila e feliz
e conseguia sentir os meus olhos a sorrir.

este tinha sido
o primeiro
dos 1321 dias de felicidade
contigo
neste meu novo continente

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