domingo, 23 de janeiro de 2011

eu???!!!!


"Eu nunca fui uma moça bem-comportada.
Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido, sem soluços.
Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho. E pra seduzir somente o que me acrescenta!
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até à fractura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.
Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.
Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou com qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar…
Eu acredito é em suspiros, mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis, em alegrias explosivas, em olhares faiscantes, em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida a gente.
Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma, no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos.
São eles que me dão a dimensão do que sou."

M. de Queiroz

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Só um Mundo de Amor pode Durar a Vida Inteira


Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso'

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O difícil que é



O que passa na cabeça de uma pessoa,
para que numa bela tarde de Janeiro, um dia diferentes dos anteriores porque nesse dia o sol brilhava no céu, terminado um almoço com um filho, um almoço normal igual ao dos outros dias, desista de viver e termine com a sua vida?



o que poderá passar pela cabeça de uma pessoa
que tem filhos que adora,
que tem um namorado com quem se dá bem,
que tem um ex por quem ainda nutre amor,
que tem uma família que ama e que a ama
que tem uma profissão que gosta
que tem um negócio ao qual se entrega de corpo e alma
que tem a calma e confiança dada pela meia idade
que tem saúde para viver pelo menos mais 40 anos
que tem solidez financeira

o que poderá passar pela cabeça de uma pessoa nesta situação,
uma pessoa que monta uma corda no tecto e se enforca?

e...
como é que nós amigos não nos apercebemos que se passava qualquer coisa de errado?
como é que nós amigos não conseguimos prever que o que ia acontecer?
como é que nós amigos, que convivemos com esta pessoa assiduamente, não nos apercebemos que havia um desequilíbrio emocional perigoso?
como é que nós amigos não lhe telefonámos nesse dia e àquela hora?

não é fácil aceitar que o nosso amigo possa ter desistido da vida
não é fácil aceitar que o nosso amigo não tenha falado connosco antes
não é fácil aceitar que o nosso amigo não nos tenha tenha confiado o seu desespero
não é fácil aceitar que o nosso amigo não nos tenha telefonado a pedir ajuda
não é fácil aceitar que não pudéssemos fazer alguma coisa para evitar este horror
não é nada fácil perder um amigo assim!!

e...
o difícil que é para um filho acreditar que não podia ter feito nada
o difícil que é para uma filho aceitar que não poderia ter lido nas entrelinhas
o difícil que é para um filho aceitar que foi uma decisão tomada sem reflectir
o difícil que é para um filho aceitar que foi uma decisão tomada em 2 minutos
o difícil que é para um filho não ver este acto com uma forma de puro egoísmo
o difícil que é para um filho pensar, ao longo da vida, que nunca de despediu
o difícil que é para um filho quando se lembra do ultimo beijo
o difícil que é para um filho aceitar que não foi suficientemente importante
o difícil que é para um filho saber que não vai ouvir mais, amo-te meu filho
o difícil que é para um filho viver com estes sentimentos
o difícil que é para um filho viver sem o pai
o difícil que é para um filho aceitar este suicídio
o difícil que é para um filho continuar a viver
em harmonia consigo,
o difícil que é!!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Travessuras de uma menina má


Com que então os desastres amorosos são os que dão os derrames cerebrais??

hummm... cheira-me a invenção do Vargas Llosa

sábado, 8 de janeiro de 2011

7 Janeiro 2011


Hoje está um dia lindo deste lado de la cañada!! Era assim que se referia ao Atlântico o meu amigo do continente sul americano.

Ele não está aqui para ver mas, estamos já em pleno Inverno e a temperatura é amena. Acima, o céu quase limpo mostra algumas pinceladas de nuvens, como se um pintor, tivesse limpo a tinta branca do seu pincel, ao firmamento.

Enchi os pulmões. Um ar limpo e leve com cheiro a maresia trouxe-me de imediato à memória tempos de férias, repletos de ternura e amor, épocas de grande paixão e beleza.

Esta visão e sensações puseram-me tão feliz que senti um largo sorriso a abrir-se-me no rosto! Dei comigo a rir de prazer de estar viva, de estar ali, em quarto minguante da vida, ainda com uma enorme prazer e vontade de a viver, plenamente, continuando a sonhar e a acreditar ser possível ainda voltar a apaixonar-me!

Apanhei o comboio em Santo Amaro, o percurso até Lisboa estende-se ao longo do estuário do Tejo. As suas águas um pouco alteradas pelo vento que sopra, tornaram-se castanho esverdeado e milhares de olhinhos brancos aqui e acolá vêem espreitar à superfície para logo desaparecerem e surgirem noutro lado.

Sei que a vida só vale a pena enquanto puder sentir tudo isto, enquanto vir beleza nas coisas simples da vida, enquanto sentir ternura ao olhar dentro dos olhos de alguém e ter vontade de me entregar e partilhar alegrias e tristezas, mas sempre e acima de tudo, alegria e amor!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Abro mão da primavera para que continues me olhando



Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são os teus olhos
Não quero dormir sem os teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Lindo!!!



Porcelain Unicorn by Keegan Wilcox
Grand Prize Winner of the Phillips Tell it your way competition

Os sentimentos que este pequeno filme faz brotar são indescritíveis! A sensibilidade na escolha do tema, da ternura que transmite, a raiva surda contra o poder, a beleza da partilha, a inocência...