segunda-feira, 1 de outubro de 2007

António Lobo Antunes à Visão

Numa entrevista de Sara Belo Luís esta semana na Visão António Lobo Antunes apresenta-se pela primeira vez diante de nós “nu e desfigurado”, retirando a sua capa de altivez e arrogância que eu sempre achei que utilizava para desmascarar alguma timidez e aversão social. Sem pieguices, descreve-nos o que passou desde que lhe foi diagnosticado um cancro, o seu novo livro chamado “O meu nome é legião” e a sua relação com a escrita e a sua transformação pessoal com a proximidade da morte. Com expressões que nos habituámos a ler ao longo de muitos anos deixa transparecer amor, desamparo, dignidade e honra de estar vivo.

Tambem eu passei por uma vivência semelhante. E quero deixar aqui expressa a minha admiração por este homem só, com uma incrível capacidade de nos transportar para os recônditos do nosso ser.

Este ano foi muito bom para mim – aprendi a admirar as pessoas do meu País e a respeitá-las ainda mais. E a amá-las ainda mais. E a gostar cada vez mais delas. A partir daí, tudo o resto se tornou relativo. Houve coisas que deixaram de ser importantes e normalmente é quando deixam de ser importantes que vêm ter connosco...

As noites no hospital são infinitas. Sofri muito e, ao mesmo tempo, toda esta experiência também me enriqueceu. Sai-se disto com mais amor pela vida e com a sensação de que é um honra estar-se vivo.

É claro que tomei consciência da minha finitude, porque todos vivemos em função de eternidades.

“O meu nome é legião” é um livro de amor. De amor por uma geração , por uma classe social sozinha e abandonada, por um grupo de pessoas desesperadamente à procura de uma razão de existir. (...) Não sei se os leitores entenderão que o livro está a transbordar de amor. Sempre me comoveu ver o desamparo em que as pessoas vivem. Acho que esta dimensão nunca foi notada nos meus livros. Vivemos num certo desamparo, numa certa desprotecção.

Quando a mão está feliz os livros parecem-me sempre ditados.

Já não minto. Já não componho o perfil. Porque a nudez desfigura sempre. Agora, jogo com as cartas abertas. Agora, jogo póquer com as cartas viradas para cima. Agora, já não há nada escondido, está tudo à vista. E ou a mão ganha ou perde.

Estive muito perto da morte e palavra de honra que é mais fácil do que se imagina. A idéia pode angustiar-nos e apavorar-nos, mas quando se está mesmo ao pé dela é muito mais fácil do que se pensa. (...) quando muito francamente me dizem que tenho um cancro, o que vejo à minha frente é a morte. Não é ver a morte à minha frente, é vê-la dentro de mim. Já está cá, é uma parte de nós. Não requer coragem, apenas dignidade e elegância.

Eu agora tenho a morte dentro de mim. E é horrível estar grávido da morte.

A doença no meu caso fez com que se acabassem os disfarces, as máscaras, as meias-frases e as meias-intas. Agora digo o que penso e o que sinto.

Não tenho falsa nem verdadeira modéstia. Sou orgulhoso, não sou vaidoso. Para quê estar a jogar consigo (entrevistadora)? O que é que eu ganho? Acho graça à maneira como, nas entrevistas, as pessoas se tentam compor, se penteiam para arranjar o cabelo, ajeitam a gravata, retocam a maquilhagem. Para quê? Para seduzir? Para tentar que gostem delas? Para fazer boa figura perante os leitores? Tudo isso já me é completamente indiferente. É uma conquista recente, ganha com tudo aquilo por que passei. Estar aqui à sua frente é a única maneira de estar. E é a primeira vez que o faço.

Quando estou a escrever um livro a minha vida muda por completo, encontro uma razão, um motivo e uma direcção

Não sei o que se passou mas tive problemas técnicos neste fim de semana com o meu espaço, contou-me um amigo. Peço desculpa aos raros passeantes por este blog, parece-me que agora está tudo bem.

domingo, 23 de setembro de 2007

Parabéns minha filha


ontem adormeci atrasada, tentando acomodar trastes, vestes, prendas e adornos numa mala de tamanho superior ao necessário, numa tentativa de agradar a dois amores da minha vida - duas das minha filhas.

o meu sono foi curto e ao despertar, a lembrança de pela primeira estar afastada do aniversário da minha filha que está a viver num país tão longe de mim, trouxe-me uma terrível impressão no estômago.

invejei a que ia partir, juntar-se a ela, uma inveja sem maldade, só porque adoraria poder acompanhá-la a Oslo, e juntar-me aos festejos do seu nascimento.  mas não fui, nem seria a mesma coisa para elas se eu fosse, iria interromper este encontro de "irmãs e amigas".


acredito que estas “miúdas” irão fazer sucesso entre esta população nórdica craving for latinos de pele morena, olhos castanhos e cabelos encaracolados.  sei que, de tudo o que vão viver, elas recordarão: festa e liberdade!! irão ter experiências variadas, aventuras desenfreadas... conhecendo-as, sei que irão visitar todos os museus que as suas pernas permitirem, numa ânsia de cultura. vão emocionar-se e gargalhar de tudo o que for novidade, vão interprelar quem lhes der na gana e marcar na memória edifícios, ruas e pessoas e, no final do dia, irão relaxar e celebrar os vinte e três anos da aniversariante.

o teu dia primeiro aniversário longe de mim Becas, vou passá-lo descontraída e contente, sabendo que estarás bem e a fazer tudo o que puderes para seres feliz.
Parabens minha filha!!

Cry me a river



Julie London (26Setembro1926 - 18Outubro2000) artista Americana que ficou conhecida pela sua voz rouca e sensual. "Cry me a River" uma das suas músicas mais famosas foi apresentada em 1956 no filme "The Girl Can't Help It" e tornou-se a million-selling single depois do seu lançamento em Abril de 1957.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

No próximo dia 7 de Julho de 07 realizar-se-à o Live Earth, um concerto que
Live Earth is a 24-hour, 7-continent concert series taking place on 7/7/07 that will bring together more than 100 music artists and 2 billion people to trigger a global movement to solve the climate crisis.

Live Earth will reach this worldwide audience through an unprecedented global media architecture covering all media platforms - TV, radio, Internet and wireless channels.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Amamos



Amamos, quando reconhecemos qualidades em alguém...
No entanto, a nossa inveja faz com que nos seja dificil reconhecer que o outro pode possuir uma qualidade superior ou ausente em nós. Passamos imenso tempo nas nossas vidas a fantasiar sobre quão bonitos, inteligentes e importantes somos e na maioria das vezes fazêmo-lo através de comparações sobre a beleza, a inteligência e a importância dos outros. A inveja faz com que nos seja difícil reconhecer que o outro é superior a nós.

Conta-se que Leib Chasman, um Rabino famoso pelos seus tratados de ética viu certa vez um aluno a comer peixe com grande prazer. "Diz-me rapaz", perguntou-lhe, "gostas de peixe?" O aluno respondeu afirmativamente. "Se gostas de peixe", disse-lhe Leib, "deverias então ter-te preocupado com aquele que está no teu prato. Deverias tê-lo alimentado, protegido e tentado torná-lo feliz. Pelo contrário, tu estás a come-lo!". Enquanto o aluno procurava uma resposta adequada, Leib retorquiu, "Obviamente que não gostas de peixe. Gostas é de ti mesmo!"
...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

the wall


Tenho pintado mais ultimamente. Cada vez mais sinto um enorme prazer em transpôr para a tela as minhas emoções. Não sei se as minhas telas são boas ou más mas, mas também não me interessa saber o que as pessoas acham da minha técnica ou imaginação, interessa-me sim saber o que elas sentem ao olhar para elas.

Alguns dos resultados alegram-me. Fascina-me pensar e planear como faço para transmitir aquilo que sinto. Não é tarefa fácil mas eu considero-a um desafio.

Também me pergunto muitas vezes porque é que tenho necessidade de usar a cor azul e linhas geométricas.

Talvez um qualquer psicólogo possa revelar estes "innuendos" mas não me questiono sobre o porquê destas necessidades.

Será que alguém encontra este meu espaço e me diz o que sente quando olha para esta tela?

quinta-feira, 22 de março de 2007

A importância do conhecimento


Só o que é realmente compreendido é verdade; A regra do conhecimento é pensar com clareza
Descartes

Sinto necessidade de entender os meus sentimentos, só assim terei a certeza do que preciso para evoluir e procurar a minha serenidade


Para mim aquele que sabe pouco não pode amar muito. Há que reconhecer que existe uma sabedoria, mesmo na loucura que é o amor.

Várias vezes penso na necessidade que sinto de obter conhecimento, na abertura de espírito que para mim é essencial à racionalidade do homem , na importância fundamental de pôr tudo em causa, de não aceitar o que nos é dado sem argumentarmos as suas premissas...

sábado, 27 de janeiro de 2007

Vê-la partir...













A minha filha mais velha vai partir. Claro que estou feliz porque, como aconteceu com todos nós, chegou a altura de se libertar, de procurar o seu rumo, de lutar pela sua independência. Fico orgulhosa por ela ter a coragem necessária para seguir o seu caminho sozinha, ainda cheia de medos mas com uma vontade inabalável de encontrar o seu lugar no mundo. Minha querida filha...

Após ter terminado a sua licenciatura em psicologia social e antes de ingressar no mercado de trabalho, irá conhecer novos mundos, novas sociedades, novas culturas. Vai começar por trabalhar em Inglaterra para juntar o dinheiro necessário para conseguir estudar durante seis meses na Noruega onde aprenderá como ajudar uma das populações mais pobres do mundo a criar desenvolvimento sustentado tendo sempre como objectivos a protecção do meio ambiente, o crescimento económico e a igualdade social. Seguirá, de imediato e durante seis meses, para um país de Africa onde porá em prática todos estes ensinamentos, trabalhando directamente com a população. Irá assim pôr em prática os seus estudos na área da psicologia social e trabalhar para uma Organização Não Governamental (CICD).

Fico muito feliz por ela e quero dar-lhe a maior das forças. No entanto, sei que vou ficar muito triste por não a ter perto de mim. As saudades vão ser muitas e sei que haverá dias em que ela não me vai sair do pensamento mas, sei também que esta fase irá ser muito importante para a transformar numa verdadeira Mulher.

Parafraseando Vinicius de Moraes:


As mulheres só belas que me perdoem, mas
Inteligência é fundamental e necessária

É preciso que a mulher reflicta por si mesma
Saiba de receitas e açúcares,
De revoluções e ogivas
De lírios selvagens e livros

Desejo a mulher-pássaro pelo seu vôo altivo
Não pela cor do rouge de ki-suco com uma alma vazia

Quero a mulher que seja ponte, asa e saiba
De Brecht a Bethoven,
Que tenha passaporte de vivências e grau de lucidez

Quero a mulher de paz e amor, de idéias e de curativos siderais
Se tiver ternura, encanto, inteligência e cultura então
Será a receita certa de musa inspiradora e dona do meu [coração.


Minha filha, este será um novo tempo de vida, tanto para ti como para mim e teremos que aprender a viver cada uma a sua própria independência.


Sê feliz meu amor!!!

terça-feira, 16 de janeiro de 2007




Fico super contente por ver o crescente interesse dos mais novos nas mostras de arte. Será que esta geração, de novas vontades, vai dar o impulso necessário para aumentar os apoios culturais nas suas várias vertentes? Quiçá...


A Exposição de Amadeo Souza-Cardoso (1887-1918) na Gulbenkian, ultrapassou os 100 mil e cem visitantes e foi uma das mais visitadas exposições de Lisboa.

Amadeo Souza-Cardoso, um contemporâneo de Almada Negreiros (1893-1970), Eduardo Viana (1881-1967), Picasso (1881-1973), Brancusi (1876-1957), Modigliani (1884-1920) e Robert Delaunay (1885-1941), frequentou o curso de Arquitectura na Academia de Belas Artes de Lisboa e, em 1905, interrompeu-o para se mudar para Paris. Instalou-se em Montparnasse onde tomou contacto primeiro com o Impressionismo e mais tarde com o Expressionismo e o Cubismo, dedicando-se, a partir desse momento, exclusivamente à pintura.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Hoje de manhã

Hoje de manhã, quando partiste, regressei ao carro, sentei-me, dei a volta à chave na ignição e o Diego el Cigala começou a cantar. De repente fui invadida por uma tristeza incrível, um sentimento muito forte de saudades e... fiquei ali sentada, frente à saída dos autocarros. Grossas lágrimas escorriam pelo meu rosto ao mesmo tempo que relembrava momentos, todos os poucos momentos que estivemos juntos. Imagens, como se viajasse numa película de filmes, desenrolavam-se à minha frente, lentamente e comecei a reviver todos os instantes juntos, o bar de praia e o seu parque de estacionamento, o Caetano e o Cigala juntos entoando “eu sei que vou-te amar” e nós dois, sós na noite, junto à ria de Tavira a dançar no meio da estrada loucos de paixão, os teus olhos, a tua boca, o teu sorriso a tua alegria e... pouco a pouco, fui recobrando daquele torpor, levantei a voz ao Diego, liguei o carro, meti a primeira e arranquei pelas ruas da cidade a ouvir aquela música a altos berros:

“En la vida hay amores
Que nunca pueden olvidarse,
Imborrables momentos
Que siempre guarda el corazón,”

e continuava

“Pero sólo consiguen hacerme
Recordar los tuyos,
Que inolvidablemente
Vivirán en mí.”

conduzi o carro, este espaço onde tinhamos feito tantas vezes amor, até ao Chiado. Eram 9h00 da manhã. Peguei a máquina fotográfica que estava no trunk do carro e saí vagueando pelas ruas ainda meia desertas, absorvendo todas as cores da manhã, fixando todos os pormenores e guardando no rolo milhares de imagens, impregnadas das emoções que tinha no coração. O dia estava lindo mas frio, sentia o vento gélido trespassar a minha blusa, arrefecendo-me os ossos mas não conseguia parar. Durante hora e meia passeei-me pelas ruas, para enganar o tempo, para não pensar, para gastar a minha energia e me refazer.

O resto do dia correu, longo e sem sabor, sem o teu cheiro sem a tua voz e sem o teu corpo a aquecer-me. Saí para jantar, à procura de amigos porque não me queria ficar sozinha mas não era eu, estava alheia, letargica, sem emoções.

Estou agora em casa, frente ao meu companheiro de solidão e te relembro meu amor.

sábado, 6 de janeiro de 2007

Todos nós concordamos

Quem pensa na forma como se relaciona com o mundo já se deve ter debruçado sobre este assunto mas nunca é demais relembrar.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Aquele que sabe pouco não pode amar muito


Aquele que sabe pouco não pode amar muito. Já não me lembro em que livro me encontrei com esta frase mas passei-a ao papel porque me pareceu um pensamento tão racional e lógico, escrito com tamanha facilidade, que imediatamente me trouxe à memória os livros e ensaios de Humberto Eco. Mas não, a frase não é dele. Este pensamento, orientado por palavras colocadas de uma forma tão simples, faz com que nos apeteça conhecer o seu autor, conversar com ele e aprender sobre esta sua facilidade em transmitir um pensamento em palavras escritas. Alguem me diz como se faz?