quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Hoje de manhã

Hoje de manhã, quando partiste, regressei ao carro, sentei-me, dei a volta à chave na ignição e o Diego el Cigala começou a cantar. De repente fui invadida por uma tristeza incrível, um sentimento muito forte de saudades e... fiquei ali sentada, frente à saída dos autocarros. Grossas lágrimas escorriam pelo meu rosto ao mesmo tempo que relembrava momentos, todos os poucos momentos que estivemos juntos. Imagens, como se viajasse numa película de filmes, desenrolavam-se à minha frente, lentamente e comecei a reviver todos os instantes juntos, o bar de praia e o seu parque de estacionamento, o Caetano e o Cigala juntos entoando “eu sei que vou-te amar” e nós dois, sós na noite, junto à ria de Tavira a dançar no meio da estrada loucos de paixão, os teus olhos, a tua boca, o teu sorriso a tua alegria e... pouco a pouco, fui recobrando daquele torpor, levantei a voz ao Diego, liguei o carro, meti a primeira e arranquei pelas ruas da cidade a ouvir aquela música a altos berros:

“En la vida hay amores
Que nunca pueden olvidarse,
Imborrables momentos
Que siempre guarda el corazón,”

e continuava

“Pero sólo consiguen hacerme
Recordar los tuyos,
Que inolvidablemente
Vivirán en mí.”

conduzi o carro, este espaço onde tinhamos feito tantas vezes amor, até ao Chiado. Eram 9h00 da manhã. Peguei a máquina fotográfica que estava no trunk do carro e saí vagueando pelas ruas ainda meia desertas, absorvendo todas as cores da manhã, fixando todos os pormenores e guardando no rolo milhares de imagens, impregnadas das emoções que tinha no coração. O dia estava lindo mas frio, sentia o vento gélido trespassar a minha blusa, arrefecendo-me os ossos mas não conseguia parar. Durante hora e meia passeei-me pelas ruas, para enganar o tempo, para não pensar, para gastar a minha energia e me refazer.

O resto do dia correu, longo e sem sabor, sem o teu cheiro sem a tua voz e sem o teu corpo a aquecer-me. Saí para jantar, à procura de amigos porque não me queria ficar sozinha mas não era eu, estava alheia, letargica, sem emoções.

Estou agora em casa, frente ao meu companheiro de solidão e te relembro meu amor.

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